Este
filme envolve histórias interessantes dentro e fora dele: Errol
Morris, o diretor, nunca tinha pensado em fazer filmes. Era tido como
um cara muito inteligente, mas que não conseguia concluir nenhum
projeto. Começou a faculdade de História, não terminou. Depois
partiu para a Filosofia, mas também abandonou o curso. Em
decorrência por sua paixão por filmes noir e por Hitchcock, decidiu
ir para Wisconsin, investigar a vida do serial killer Ed Gein –
aquele que deu origem ao clássico Psicose,
de Hitchcock. A intenção era escrever um livro, mas àquela época
ele já considerava que aquilo poderia virar um filme. O projeto
também nunca foi concluído.
Foi
então que o diretor alemão Werner Herzog, amigo de Morris, foi até
Wisconsin e entregou-lhe um envelope com 2 mil dólares, com um
desafio: que Morris prometesse pegar o dinheiro e fazer um filme.
Caso o mesmo fosse concluído, Herzog comeria o próprio sapato, que
usava na ocasião.
Errol,
ao ler uma nota de rodapé de jornal, sobre a falência de um
cemitério de animais em Los Altos, na Califórnia, resolveu fazer um
filme sobre aquele lugar e sobre o novo lugar de estadia dos 450
caixões de animais que lá se encontravam. O projeto não só ficou
pronto, como obrigou Herzog a cumprir a tal promessa, que acabou
servindo como protesto por Morris não conseguir distribuição, como
também gerou um curta bizarro e sensacional, Werner Herzog Come Seu Sapato.
A distribuição para Portais
do Céu,
depois de tal “protesto”, não demorou a sair.
O
resultado é que Portais
do Céu
não só foi tido (merecidamente) como um dos melhores filmes de
1978, como também marcou o início da carreira de Morris, que mais
tarde ganharia o Oscar de melhor documentário por The
Fog of War
(2004), além de também dirigir obras aclamadas, como The
Thin Blue Line
– considerado um dos melhores da história – e Procedimento
Operacional Padrão
(2008).
Este
é um documentário cru, com câmeras estáticas e quase imparcial. O
diretor simplesmente registrou os acontecimentos, não usou recursos
opinativos, como a voz em off,
e deixou com que seus personagens falassem o que quisessem, desde
questões práticas sobre os cemitérios, até questões filosóficas,
críticas ao american way of life ou simplesmente sobre a saudade e o
valor dos bichinhos de estimação para os seus donos. Tudo sem
maiores julgamentos. É, inclusive, muito fácil um grupo assistir ao
filme e cada um ter uma opinião diferente sobre ele e sobre seus
retratados.
Bem
quadrado, é verdade, mas honesto e muito interessante.
Trailer:
(Gates
of Heaven, EUA, 82 minutos, 1978)
Dir.:
Errol Morris
Nota
8,0