Baseado no best-seller autobiográfico de Elizabeth Gilbert, Comer, Rezar, Amar nada tem de muito interessante para muita gente, mas não fez feio nas bilheterias norteamericanas porque a parcela feminina da população correspondeu às expectativas e foi conferir a adaptação do livro que muitos adoram.
É engraçado que, em Berlim, as pré-estreias são separatistas, ou seja, homem só pode ver “filme de homem” e mulher só pode ver “filme de mulher”. Mas neste caso, a divisão até que é coerente: Comer, Rezar, Amar é um filme para (um grupo específico de) mulheres.
Assim, só pude conferir o novo filme de Julia Roberts agora, depois da verdadeira estreia em terras alemãs. E fui, na esperança de que minha opinião não batesse com a da maioria dos críticos e que eu gostasse, já que gosto da Miss Roberts e achei que fosse um filme maduro. Mas a verdade é que, se a protagonista fosse vinte anos mais jovem, não faria a mínima diferença.
As crises existenciais e a dificuldade em se relacionar, bem como a fuga dos problemas (achando que mudar de cidade é a solução para tudo) são típicas de uma adolescente – desculpem o termo – boboca. Mas paciência. É autobiográfico e a personagem precisava ter a mesma idade da Lisa real.
Lisa é bem sucedida na carreira, tem um marido que a ama e dinheiro. Mas ela se sente incompleta e o anseio por mudança a faz tomar uma decisão: ela resolve passar um ano viajando, durante o qual ficará um tempo na Itália, na Índia e em Bali. Os países representam as “fases de crescimento” pelas quais ela passou, respectivamente: a admiração pela gastronomia, o costume e o prazer em rezar, e o a descoberta do amor verdadeiro.
A fase italiana é a que melhor se desenvolve, com dinamismo, boa utilização da linguagem cinematográfica, ausência de redundância entre imagens e falas e boa trilha sonora. Depois disso, a história cada vez mais perde o fôlego e chega ao final dos longos 140 minutos se arrastando.
A impressão é de que o diretor tentou não deixar nenhum detalhe do livro de fora. Se tivesse uma montagem mais eficiente, poderia ser bem mais agradável. Mesmo assim, parece ser melhor que o livro – mas isso só quem leu poderá dizer.
Comer, Rezar, Amar só escapa de ser uma tremenda chatice porque possui uma boa primeira metade e porque tem um elenco competente, que vai de Julia Roberts a Viola Davis e o excelente Richard Jenkins. Ah, sim! E tem o (quase) sempre muito bom Javier Bardem, desta vez interpretando o brasileiro Felipe, com quem a autora do livro é casada até hoje, com direito a sotaque portunhol e a citação de que os homens no Brasil têm o costume de beijar os filhos na boca. Só em filme de gringo mesmo...
Trailer:
(Eat Pray Love, EUA, 141 minutos, 2010)
Dir.: Ryan Murphy
Com Julia Roberts, James Franco, Richard Jenkins, Javier Bardem, Viola Davis
Nota 4,0