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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Curta: 69 - Praça da Luz

69 – Praça da Luz” é um documentário em curtametragem, das diretoras Carolina Marcowicz e Joana Galvão. Foi exibido em diversos festivais e ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio 2008.

Mostra depoimentos de cinco senhoras, que até hoje ganham a vida como prostitutas na Praça da Luz, em São Paulo.

De maneira corajosa, elas falam abertamente sobre suas experiências, humilhações e também contam sobre as excentricidades dos seus clientes. As histórias são, algumas vezes, tão parecidas que cheguei a pensar que se tratava de uma espécie de “Jogo de Cena”, como se apenas uma daquelas mulheres fosse verídica e as outras fossem atrizes, interpretando-a.

Este é um curta que vai do hilário ao trágico em questão de segundo. Isso quando ambos os adjetivos não se encontram numa mesma história. 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Crítica: Canino (Kynodontas)

Primariamente experimental ou experimentalmente primário. Assim é Kynodontas, filme do diretor grego Giorgos Lanthimos. Experimental porque assim o soa, como um teste darwinista; primário porque utiliza de quase nenhum truque que o cinema dispõe.

Tão básico, mas extremamente aberto, explorador dos sentimentos mais animalescos do Homem.

A situação é muito simples: um casal resolve criar os filhos nas limitações de uma grande casa com jardim, num lugar ermo, onde nada nem ninguém pudesse intervir na educação deles. Tudo o que vem de fora é bloqueado, inclusive os meios tecnológicos de comunicação.

Assim, os filhos, já quase maiores de idade, encontram-se ainda infantilizados, inseridos num contexto quase autossuficiente. Todas as necessidades humanas são supridas entre eles – sim, todas mesmo. Por isso, cenas que poderiam ser chocantes são vistas como resultado natural das necessidades físicas e psicológicas.

Ira, luxúria, chantagem, inveja, competitividade e esperteza se mostram da maneira mais crua possível. Por (muitas) vezes beira o grotesco, até que este grotesco seja absorvido pelos olhos e torne-se um costume compreensível.

Limitada é também a fotografia, propositadamente. Os enquadramentos são sempre simples, mas muitas vezes inesperados. A câmera está predominantemente estática, mas por vezes só se vê os pés dos personagens ou um pedaço das costas ou um personagem que sai de quadro no meio da ação.

Mesmo intelectualoide, o diretor não faz um filme chato e sutilmente insere sequências que despertam curiosidade e que cômicas. Seria inimaginável ver uma paródia de Flashdance ao som de um desafinado violão, num filme de arte grego, mas Giorgos consegue fazê-lo e corre o risco de tornar aquilo antológico.

Kynodontas é econômico nas locações, na decupagem, no roteiro, com personagens e até em seu formato – aparentemente o longa foi rodado em mini-dv. É uma experiência aparentemente subdesenvolvida, mas ainda muito a ser estudada.

Trailer:

(idem, Grécia, 94 minutos, 2010)
Dir.: Giorgos Lanthimos
Nota 9,0

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Crítica: 127 Horas

Felizmente, a badalação em cima de Danny Boyle, depois do premiado e bem sucedido nas bilheterias “Quem Quer Ser um Milionário”, não o fez perder a lucidez. O diretor utilizou sua moral para viabilizar não um filme megalomaníaco ou pretensioso, mas uma nova obra com cara de independente, coerente com o restante de sua carreira.

127 Horas” é baseado na história real de Aron Ralston, montanhista que sofreu um acidente no Grand Canyon e ficou as tais 127 horas com o braço preso por uma rocha. Sozinho no desértico lugar, teve que arrumar soluções drásticas para conseguir sair de lá.

No filme, Aron é interpretado por James Franco (Homem-Aranha), que usou bem a força do personagem e entregou a melhor atuação de sua carreira, num filme difícil, no qual ele brilha sozinho quase que na totalidade dos 94 minutos.

O único “porém” é que, mesmo com tanto tempo para o ator se mostrar, a típica sequência modelada para Oscar precisou se fazer presente, na qual o personagem faz um talk show sobre si mesmo. Inclusão safada, com a óbvia pretensão de dar a deixa para o ator ter seu momento ensadecido e garantir uma vaguinha nas premiações da temporada.

Danny Boyle repete a parceria com o roteirista Simon Beaufoy, que constrói cautelosamente uma narrativa tensa e consegue inserir elementos atrativos numa história que, apesar de impressionante, poderia ser resumida em duas linhas. Ele usa a história do montanhista para refletir sobre o aproveitamento da vida, sobre o que poderia ser feito, mas não foi; e sobre o que Aron ainda gostaria de realizar, mas talvez não tivesse mais a chance de realizar, em decorrência de um único erro.

Isso fica claro pela montagem, recheada de pequenos flashbacks e projeções de desejos de Aron. Pensamentos que muitas vezes se misturam e são jogados numa tela dividida em três partes, numa profusão de imagens simultâneas.

Aproveitando de uma locação esplendorosa, a fotografia de Enrique Chediak (Besouro) e Anthony Dod Mantle (Quem Quer Ser Um Milionário) deita, rola e faz parecer fácil filmar entre fendas estreitas debaixo de um sol escaldante. A variedade dos planos e o primor das imagens é um deleite para os admiradores da boa técnica. Até a inserção de um merchandising descarado é feito de uma das maneiras mais pertinentes que o cinema já viu.

Não é esta a obraprima de Danny Boyle (este adjetivo ainda está nas mãos de “Trainspotting”), mas já é bom saber que o diretor mantém a excelência e a sobriedade. Menos mal.

Trailer:

(127 Hours, EUA/Inglaterra, 94 minutos, 2010)
Dir.: Danny Boyle
Com James Franco
Nota 7,5


Crítica: Bravura Indômita

Aplaudido pelos cerca de 500 jornalistas presentes à sessão promovida no Festival de Berlim, “Bravura Indômita” parece ter sido feito de encomenda para o Oscar, mas poderia não ser, não fosse o talento para histórias de faroeste dos irmãos Coen – ainda que eles aleguem que o filme só virou faroeste por acaso.

Realizando filmes independentes ou de grande orçamento, os irmãos diretores sempre deixam sua marca extremamente estadunidense em seus filmes e o fazem surpreendentemente acima dos (baixos) padrões de qualidade do cinemão norteamericano. Como quase sempre acertam a mão, viraram queridinhos das premiações e são sempre badalados. Fazendo bem um cinema – que poderia, mas não é – limitado para americano ver, eles parecem ser os últimos a ainda dirigirem com primor genuínos faroestes.

Bravura Indômita” é a refilmagem do clássico homônimo protagonizado por John Wayne, em 1969. Na versão atual, Jeff Bridges é o U.S. Marshal Rooster Cogburn (espécie de fora-da-lei), que ajuda a menina Mattie Ross, em busca de se vingar pelo assassinato do pai.

Ambientado no Arkansas, o filme tem todos os elementos de um faroeste, mas isso só serve de pano de fundo para uma história sobre amadurecimento precoce, obstinação e coragem. Obviamente, também fazem parte dos ingredientes a ação, tiros e algum sangue – provavelmente elementos que explicam o sucesso estrondoso do filme com o grande público. Só nos EUA, o longa já arrecadou mais de 150 milhões de dólares e outros tantos no restante do mundo.

Impecável em sua execução, “Bravura Indômita” não deixa dúvidas quanto ao mérito de seus tantos prêmios recebidos, especialmente por sua belíssima fotografia (marca do mestre Roger Deakins), figurinos caprichados e um elenco invejável. Não há dupla que pudesse se sair melhor do que Jeff Bridges e a menina Hailee Seinfeld. São eles a representaação do velho e do novo e do equilíbrio entre ambos. Uma definição que cabe à produção como um todo, com charme de filmes antigos, mas sem deixar de lado elementos e técnicas modernas.

Bravura Indômita”, assim como os irmãos Coen, é admirado não porque seja genial, mas porque adapta bem um material ultrapassado, é extremamente bem executado e poucas vezes peca. A verdade é que, em tempos de pouca inventidade – Aronofskys à parte – quem erra menos é rei.

Trailer:

(True Grit, EUA, 110 minutos, 2010)
Dir.: Ethan e Joel Coen
Com Jeff Bridges, Matt Damon, Hailee Seinfeld, Josh Brolin
Nota 8,5

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Festival de Berlim consagra iraniano "Nader and Simin"

Foto: Getty Images
Como previsto e desejado pela maioria daqueles que acompanharam toda a competição do 61º Festival de Berlim, o filme iraniano “Nader and Simin – a Separation”, de Ashgar Farhadi (Procurando Elly) levou o Urso de Ouro na cerimônia de premiação, que aconteceu neste sábado, às 19 horas, no luxuoso Berlinale Palast.

Os atores - em conjunto - e as atrizes - também em conjunto - do longa levaram os ursos de prata em suas respectivas categorias. Nada mais justo com um elenco que se mostrou brilhante em cena e comoveu a todos. O filme trata de um casal em processo de separação. Ao sair de casa, a mulher obriga o homem a contratar uma empregada para cuidar do seu pai doente. Uma série de acontecimentos elipsados submetem ambas as famílias – a do homem e da empregada – numa rede de mentiras e acusações.

Como também era esperado, o Urso de Prata de Melhor Filme foi para o húngaro “The Turin Horse”, do diretor Béla Tarr. Verdade seja dita, apesar de ser arrastadíssimo, o longa é uma bela obra e mereceu levar o “segundo lugar”, ainda mais numa edição do festival em que os melhores filmes estavam fora de competição.

As surpresas ficaram por conta do prêmio de melhor direção para o alemão Ulrich Kölner, pelo controverso “Schlafkrankenheit” (Sleeping Sickness). O mexicano “El Premio” levou os Ursos de Melhor Fotografia (por Wojciech Staron) e Melhor Desenho de Produção (por Barbara Enriquez). O Urso de Melhor Roteiro foi para o albanês “The Forgiveness of Blood” (por Joshua Marston e Andamion Murataj). Por fim, o prêmio Alfred Bauer, concedido ao filme de maior inovação, ficou com o alemão “Wer wenn nicht wir” (If Not Us, Who?).

Outros prêmios também foram conferidos, voltados para filmes de diretores estreantes e para curtas metragens. Veja abaixo a lista completa:

Urso de Ouro
"Nader and Simin, A Separation", de Asghar Farhadi

Urso de Prata - Grande Prêmio do Júri
"The Turin Horse", de Béla Tarr

Urso de Prata para melhor diretor
Ulrich Kohler ("Sleeping Sickness")

Prêmio Alfred Bauer, concedido a um trabalho inovador
"If Not Us, Who", de Andres Veil

Urso de Prata para melhor ator
Peyman Moadi, Babak Karimi e Ali Asghar receberam pelo elenco masculino de "Nader and Simin, A Separation")

Urso de Prata para melhor atriz
Sareh Bayat e Sarina Farhadi receberam o prêmio pelo elenco feminino de "Nader and Simin, A Separation"

Urso de Prata para melhor roteiro
Joshua Marston e Andamion Murataj ("Forgiveness of Blood)

Urso de Prata para excepcional contribuição artística - ex-aequo
Na categoria câmera: Wojciech Staron ("El Premio")
Na categoria direção de arte: Barbara Enriquez ("El Premio")
Filmes estreantes da seleção oficial

Prêmio de melhor fime estreante
"On The Ice", de Andrew Okpeaha MacLean

Menção especial para filme estreante
"The Guard", de Johnn Michael McDonagh
"The Fatherless", de Marie Kreutzer
Curtas-metragens

Urso de Ouro
"Nightfishing", de Park-Chan-wook e Park Chan-kyong

Urso de Prata - Prêmio do Júri
"Broken Night", de Yang Hyo-joo

Menção especial
"Questions to My Father", de Konrad Mühe


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Festival de Berlim está chegando ao fim

Está chegando ao fim. Jornalistas e fotógrafos já não se movimentam mais insandecidamente, como nos outros dias. Apostas feitas, a espera agora é pelo resultado da 61ª edição do Festival de Berlim, um dos mais importantes festivais de cinema do mundo.

Para jornalistas e fãs, o festival foi um prato cheio, de notícias e estrelas do cinema mundial. A gritaria no tapete vermelho era rotina, tudo em prol de uma foto ou um autógrafo dos ídolos que por ali passaram. A busca por um lugar em algumas coletivas de imprensa era também motivo de disputa. Nas bilheterias, filas enormes e quase todas as sessões esgotadas.

Apesar da quantidade enorme de público, pouquíssimos foram os momentos de tumulto. Uma lição de organização que o berlinense dá. Nem panfletos ou sujeira se viam pelas ruas principais da Berlinale. Civilização.

Paralelamente, novatos trocaram ideias com os mestres do cinema, no Berlinale Talent Campus. Enquanto isso, produtores venderam seus filmes e projetos no Berlinale Film Market – por onde passou, discretamente, Madonna.

Colin Firth, Helena Bonham Carter, Carmem Maura, Josh Brolin, Jeff Bridges, Irmãos Coen, José Padilha, Wagner Moura, Kevin Spacey, Jeremy Irons, Zachary Quinto, Gabourey Sidibe, Miranda July, Gerard Butler, Ralph Fiennes, Vanessa Redgrave, Win Wenders, o próprio diretor do evento, Dieter Kosslick – esbanjando simpatia por onde passava – e muitos, muitos outros abrilhantaram o festival.

Neste sábado, os vencedores serão conhecidos. No domingo, um Kinotag (Dia do Cinema) é reservado exclusivamente para o público, com os preços dos ingressos pela metade. É neste dia também que serão conhecidos vencedores pelo voto do público. “Tropa de Elite 2”, que teve nesta sexta-feira (18) outra sessão de ingressos esgotados com mais de um dia de antecedência, no Friedrichstadtpalast, talvez o maior cinema do festival, com lotação de 1800 lugares.

Os últimos dois dias de festival já não contam mais com eventos para a imprensa. Resta agora tentar ver o que não foi possível nos outros dias e esperar por mais um ano de magia do cinema na exemplar capital alemã. Berlim, até 2012!

Premiére de "Unknown" durante Festival de Berlim

Só o fato de “Unknown” ser uma coprodução Alemanha/EUA para explicar sua inclusão dentre aqueles que ganharam sessão especial no 61º Festival de Berlim. Uma escolha ousada dos organizadores do festival, mostrá-lo a uma plateia de jornalistas predominantemente alemães e ainda mais ousada da equipe comparecer à coletiva e dar a cara para bater.

Unknown trás uma história classificada como thriller, baseada no romance do alemão Didier van Cauwelaert, mas que poderia ser tida como uma comédia de mão cheia. A chuva de risos que o filme provocou na sessão para a imprensa demonstra das duas uma: ou os críticos tiveram muito senso de humor para suportar tanto disparate ou estavam simplesmente sendo irônicos com tanta bobagem em forma de película.

Liam Neeson é (ou não) Martin Harris, um estadunidense que desembarca em Berlim a trabalho, acompanhado de sua esposa (Diane Kruger). Assim que chega, sofre um acidente de carro e acorda no hospital, quatro dias depois, sem lembrar-se do que aconteceu. Ele descobre que sua esposa não o reconhece mais e que outro homem (Ainda Quinn) assumiu a sua identidade.

Desesperado, ele sairá pela cidade em busca da verdade, com a ajuda de uma taxista (Diane Kruger) e um ex-policial da Stasi (Bruno Ganz).

É incrível como o diretor espanhol Jaume Collet-Serra (A Órfã) achou que esta seria uma boa história para levar para os cinemas. Estranho é imaginar o que ele pensava ao jogar na tela uma bobagem atrás da outra. Na coletiva de imprensa após o filme, pelo menos, ele reconheceu que nunca esteve em Berlim antes, mas que não gostaria de filmar em Los Angeles, por ser uma cidade muito familiar aos americanos.

De cara, ele apresenta a capital alemã como uma cidade caótica, cujos transportes de carga são um perigo para o trânsito, um dos melhores hóteis da cidade tem um serviço péssimo e trata seus hóspedes com desprezo, todo e qualquer cidadão pode ser subornado como se esta fosse uma prática cultural, médicos liberam seus pacientes assim que os mesmos desejarem e (ex)-nazistas são encontrados em qualquer esquina e ainda são envolvidos com o serviço secreto, de modo que podem ajudar na resolução do caso.

Depois de tanta baboseira, esperava-se pelo menos que tudo fosse justificado ao final, mas o máximo de explicação que se tem é “você era o meu melhor assassino, agora é apenas um junkie sem nome”.

Liam Neeson está péssimo como o protagonista do longa, mas isso não é nenhuma novidade. Inesperado é um ator como Bruno Ganz (A Queda), por exemplo, ter se submetido a participar de um projeto assim.

A atriz Diane Kruger disse, quando perguntada sobre como foi trabalhar com o Jaume: “ele era muito calmo... mas às vezes eu não tinha ideia do que eles estavam fazendo, já que ele falava em espanhol a maior parte do tempo, com a equipe”. Tão perdida quanto quem viu o filme.

"The Forgiveness of Blood" encerra bem a competitiva da Berlinale

A tradição albanesa do Kanun dá o pontapé inicial para o filme “The Forgiveness of Blood”, último filme em competição no Festival de Berlim 2011. Conhecida pelos brasileiros por ter sido retratada em “Abril Despedaçado” (baseado num livro do escritor albanês Amir Kadaré), o Kanun consiste na prática executada nos “feudos do sangue”, quando a morte de um indivíduo deveria ser sanada pela sua família, através da morte de um membro masculino da família do assassino.

O costume fora banido pelo regime stalinista de Enver Hoxha e durante seus quarenta anos de existência, apenas uma morte foi registrada, mas voltou a ser praticado em 1992, com o colapso do comunismo no país. Desde então, quase dez mil homens já foram mortos em decorrência do Kanun.

Nascido em Los Angeles (EUA), o diretor Joshua Marston (Maria Cheia de Graça) passou um tempo na Albânia, entrevistando pessoas, pesquisando sobre a tradição. Decidiu contar a história pela perspectiva de quem comumente não é focado. Ao contrário de “Abril Despedaçado” e outros filmes baseados no tema, em que o ciclo vicioso de matar-aqui-morrer-acolá domina as histórias de vingança, “The Forgiveness of Blood” se concentra no jovem Nik, que é obrigado a ficar preso em casa, depois que seu pai é acusado de ter matado o membro de uma outra família.

Esta prisão domiciliar é a forma usual de demonstrar respeito pela família do morto e evitar que a vingança seja feita.

O diretor imerge assim, o espectador numa clausura angustiante, junto com o seu protagonista, assim como acompanha a apreensão dos outros membros de sua família que, apesar de poderem circular pela cidade, têm suas restrições e são dominados pelo medo de algo pode acontecer a qualquer momento. É uma perspectiva mais dolorosa, o que não faz do filme uma obra melhor do que a que o diretor brasileiro Walter Salles fez em “Abril”.

Mas é um filme bem construído, com uma trilha sonora que entra apenas em momentos muito precisos. Constitui uma alternativa sobre um costume cruel, que afeta muita gente, mas que parece não ter fim.

Foi um bom encerramento para um festival cuja competição contou com filmes excelentes, mas também incluiu na sua corrida filmes que não mereciam estar em nenhuma mostra.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lipstikka surpreende na competição em Berlim

Mudando o Festival de Berlim de ares, mas mantendo o tema-mor do ano, “discussão de relacionamentos”, a coprodução Israel/Inglaterra “Lipstikka” trouxe novos ares à competição, com uma trama envolvente e sexy, ainda que sua dose maior seja de drama.

Como a própria sinopse define, é um drama psicológico que retrata o vínculo sexual e emocional entre Lara e Inam, duas adolescentes palestinas. A histórias é contada em três etapas que se entrelaçam pela montagem: a da adolescência na Cisjordânia, o início da vida de ambas em Londres e o reencontro sete anos depois disso, quando Lara já tem vida estabelecida, casada e com filho e Inam ainda com situação a ser resolvida.

As idas e vindas do roteiro criam o tom de suspense e deixa muitas perguntas no ar. As respostas que veem abrem ainda mais questões, que serão todas explicadas numa crucial retomada de cena no final. É o chamado ponto de vista esclarecedor, quando o que uma parte acha que aconteceu assim revela-se assado a partir da perspectiva da outra.

Ainda que com um sotaque inglês terrível, as atrizes Clara Koury e Nataly Attiya possuem química e seguram as pontas como as amigas em sua fase adulta. Mas é a novata Moran Rosemblatt que verdadeiramente impressiona, na pele da despudorada Inam, enquanto jovem.

O ressentimento é o principal componente daquela relação, que sempre fora amorosa (no sentido carnal e sentimental), mas sendo aparentemente uma via de mão única. Este amor, os mistérios e as motivações psicológicas foram pontos que o diretor Jonathan Sagall (Urban Feel) tratou muito bem. Fora a excelente direção de fotografia, de cores acinzentadas no presente e mais saturadas e coloridas no passado – é como se aquele tempo de descobertas fosse mais intenso que o atual. E isso é bem verdade.

O diretor já havia concorrido ao Urso de Ouro com seu primeiro filme, em 1999, e pode até não ter força suficiente para tirar o prêmio das mãos do iraniano Asghar Fahradi ou do húngaro Béla Tarr, mas já sobe mais um degrau no conceito do festival berlinense. A sua vez ainda pode chegar.

"Come Rain, Come Shine" melhora o nível da competição em Berlim

A fixação por tratar de relacionamentos em seus últimos momentos de respiro parece tomar conta dos cineastas atuais, que apesar de poderem tomar o tema por diversas perspectivas, a maioria escolhe o caminho do filme depressivo, como se quisessem arrastar o espectador para a mesma morte.

Foi este novamente o tema do filme em competição no oitavo dia de Festival de Berlim, “Come Rain, Come Shine”, do sulcoreano Lee Yoon-Ki. Diretor do premiado “My Dear Enemy” (2009), Lee faz um retrato entediante de uma relação em crise.

O Marido está levando a Esposa para o aeroporto, quando Ela anuncia que está deixando-o. Por causa de uma tempestade, o casal é impedido de chegar ao destino e eles resolvem passar o seu último dia juntos, em casa.

A decisão tomada por Ela parece ser simplesmente fruto da inércia do relacionamento, mas ambos parecem não querer de fato a separação. É então que, neste dia entediante, de pura reflexão, que ambos repensarão duramente suas decisões.

Na verdade, Ele parece estar acomodado com a decisão da mulher e espera, introspectivamente. É nela que a situação se concentra. É ela quem precisa pesar os próprios sentimentos e a angústia é inevitável, o fardo ainda maior.

Lee Yoon-Ki não tem pressa de desenvolver o seu tema, mas não deixa o ritmo parar. Suas cenas são longas e lentas, mas há sempre algo acontecendo. Ele é mais um que adota a visão de que gatos (ou bichanos em geral) têm substituído a figura dos filhos como esperança de harmonizar e/ou completar o que falta na construção. Mas gatos, assim como filhos, não salvam relações.

Mas o essencial, neste caso, é que o casal enfrenta a crise com respeito. Dão tempo ao tempo. Esperam o fim da chuva e a chegada do raiar do sol.

Come Rain, Come Shine” não é o mais tocante dos filmes, mas a intenção era incomodar pela crueldade daquele estágio de sofrimento, a mesma foi atingida. E não foi preciso mais do que dois ambientes – o carro e a casa – para concluí-lo com sucesso.

Crítica em Berlim ignora brasileiro "Os Residentes"

A participação brasileira no Festival de Berlim, depois da ovação de "Tropa de Elite 2" pelo público e pela crítica, seguiu nesta quarta e quinta-feira, agora divindo ambos os setores. Na quarta-feira, o filme ganhara uma sessão na maior sala do CineStar Sony Center (com 515 lugares), mesma sala onde foram exibidos outros filmes sulamericanos. Todas as sessões foram lotadas, à exceção deste brasileiro.

Parecia que o público já sentia o cheiro do que viria e resolveu evitá-lo. Não houve debandada geral durante a sessão, nem aplausos ou vaias ao final. O que não impediu de o público esvaziar rapidamente o local e não se interessar em ficar para ouvir o que o diretor tinha para dizer, ao contrário do que tem acontecido na maioria das sessões da Mostra Fórum, nas quais o público debate com os realizadores após a exibição.

A sessão para imprensa aconteceu numa sala menor, com quórum inicial de cerca de 200 jornalistas do mundo todo. Ao término, 23 era o exato número de sobreviventes na sala. O longa já havia sido exibido no Festival de Brasília, causando reações de revolta e de alguma defesa. Depois, ganhou o prêmio da crítica no Festival de Tiradentes, em janeiro último.

Descontruindo todos os preceitos usuais de roteiro e montagem, o diretor Tiago Mata Machado criou uma mescla de vídeoarte, teatro e cinema subversivo na qual um grupo de pessoas vive num prédio de sobrevivência temporária e gastam os seus dias ali, discutindo assuntos de cunho político e filosófico ininteligível, proferindo ideias soltas como lunáticos que são.

Filhote desnecessário do enfadonho Julio Bressane, é bem verdade que Tiago faz um cinema ousado, mas ninguém se importa com uma arte sem sentido, com filosofia anarquista de hyppie comunista. Felizmente, esta contracultura ficou para trás e o cinema raramente a utiliza, simplesmente porque não funciona nesta linguagem.

Os Residentes” não foi criado no nicho artistico ideal. Sua estética, sua trilha, sua direção de arte e sua montagem funcionariam perfeitamente bem como uma videoinstalação, mas como cinema, está fadado a ser exibido apenas em festivais. Diretor e equipe mostraram verdade no que estavam fazendo, mas isso não é suficiente. Talvez com uma bula e muita paciência...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Candidato argentino é o pior do Festival de Berlim

O péssimo dia para a competição do Festival de Berlim em seu sétimo dia contou com a apresentação do longa argentino “Un Mundo Misterioso”, uma bomba inexplicável que fez com que metade dos críticos deixassem a sessão antes do fim e a outra metade o vaiasse com veemência.

Sendo a primeira obra deste festival a ser exibida no antiquado formato 4:3, que não aproveita por completo a tela do cinema e ainda tem suas margens superior e inferior cortadas, o filme testou a paciência dos presentes e os desafiou a ficar até o fim. Eram incontáveis aqueles que se contorciam ou que faziam cara feia durante o filme.

O longa do diretor Rodrigo Moreno começa com um casal acordando. Ainda na cama, a mulher anuncia que precisa de um tempo na relação. Depois de contestá-la, o homem resolve atender o pedido e sai de casa por uns dias. Pronto. Acabou o filme e linguiças começaram a serem enchidas, em 108 infindáveis minutos.

O homem vai em busca de comprar um carro usado, analisa-o, faz perguntas ao vendedor, resolve comprá-lo. Pega a estrada, o carro pifa, pernoita no acostamento. Encontra pessoas, conhece outras mulheres e conversa aleatoriedades por aí. Em uma conversa num sebo, ele pergunta ao vendedor: “O que acontece no fim deste livro”. “Nada, absolutamente nada” é a resposta. “E por que teria de acontecer algo?”, retruca o vendedor. Via-se ali o diretor do filme, já explicando sua pseudo-obra, mas esquecendo-se de dizer também que, neste livro, nada acontece também no começo e no meio.

Mas é numa fala de uma mulher numa casa de jogos que o pensamento coletivo é exprimido: “este lugar me deprime”. Todos na plateia pareciam concordar.

Uma virtude o diretor tem: a coragem. Coragem para vir a Berlim e ser vaiado do jeito que foi. E pensar que muitos desavisados ainda irão assistí-lo, ludibriados pelo cartaz que deverá ostentar com orgulho a logomarca de competidor da Berlinale...


Berlinale: "El Mocito" retoma a ditadura Pinochet

Contestar e pedir por justiça foi o que fizeram os diretores Marcela Said e Jean de Certeau de “El Mocito”, documentário chileno exibido no sétimo de Berlinale. Exibido para uma plateia de cerca de 500 pessoas que lotaram um dos cinemas do festival, o filme foi assistido no mais absoluto silêncio, tão envolvente foi a história do seu retratado.

Jorgelino Vergara foi ajudante de torturadores que trabalhavam para a DINA e a CNI, órgãos repressores da ditadura Pinochet. Adolescente à época, servia cafezinho aos torturadores e fazia pequenos favores, enquanto eles torturavam e executavam pessoas. Marcado na sua comunidade por ter “corroborado” com tais horrores, envelheceu sem nunca ter conseguido um trabalho decente, depois que a ditadura se foi.

Éramos jovens obrigados a fazer aquilo pela ditadura que servíamos. Você vai me chamar de assassino por isso?”, diz o arrependido personagem, numa fala que abre o filme. “Eu procurava um personagem que fosse sincero com o que fizera na época, mas só encontrava pessoas más e/ou mentirosas. Sentia sempre algo ruim perto delas. Foi então que o nosso pesquisador e nosso assistente, Javier Ignacio Rebollero, encontrou o Jorgelino e percebi imediatamente que ele seria nosso personagem”, conta a diretora Marcela Said, após a sessão.

A equipe do documentário leva o ex-ajudante até um juiz, para que ele veja se é possível conseguir uma indenização, por aquela época ter-lhe deixado traumas profundos e ter sido condenado pela vida por isso. É ali, de frente para o juiz, que ele responde questões esclarecedoras. E é revisitando locais de tortura que ele explica em detalhes como as sessões ocorriam. São depoimentos fortes e honestos.

Este é um dos casos em que a função do documentário extrapola a simples exposição de fatos ou história contada. “El Mocito” teve uma importância nacional e ajudou aquele homem arrependido a se redimir, depois de passar a vida orando, pedindo perdão e acordando todos os dias se forçando a dizer para o espelho que ele poderia ser um homem bom e fazer algo pelos Direitos Humanos. E foi com a ajuda da equipe do longa que ele o fez, num feito que só é revelado na cartela que encerra o documentário.

Esta é uma bela história de arrependimento e redenção, um clamor por justiça e incentivo para que outros pudessem fazer o mesmo pela sociedade chilena.


"Ausente" representa bem a Argentina no Festival de Berlim

O diretor argentino Marco Berger (Plano B) veio a Berlim para apresentar seu novo trabalho, Ausente, pela Mostra Fórum, e causou polêmica ao contar a história de envolvimento entre um menor de idade e seu instrutor de natação.

A verdadeira questão do filme é analisar a natureza do desejo e a forma que um adulto deveria tomar cuidado quando deparado com tal confusa situação; a intenção não é puní-lo, mas entendê-lo sem julgamentos”, disse o diretor, em conversa com público e crítica após a sessão, expondo uma opinião forte sobre o assunto.

No filme, o aluno Martin machuca o olho durante uma aula de natação. Seu professor, Sebastian, leva-o ao hospital e na saída oferece-o carona, mas o garoto diz ter perdido as chaves de casa e lá não há ninguém para recebê-lo. O professor, vendo-se sem opção, leva o garoto para dormir em sua casa.

Um tom escuro é empregado em toda a fotografia da película. Elipses obscurecem os fatos e a música é usada para ampliar o suspense e deixar claro que algo de errado existe ali. A tensão sexual entre professor e aluno é elevada à máxima potência e instiga. Afinal, o que quer o garoto? É difícil não pensar em qual seria a maneira correta para o professor agir, com razão ou com honestidade.

O que difere o filme dos demais de temas parecidos é que aqui a situação de sedução é invertida. O símbolo do pecado da luxúria é representado pela menor de idade. É ele quem manipula os acontecimentos e confunde o adulto.

Instigante, “Ausente” deixa é de deixar qualquer curioso o suficiente para não piscar até o final. Espera-se que o desfecho seja realmente convincente e o mesmo o é, justamente por surpreender as expectativas. Quando os fatos ocultos pelas elipses começam a ser revelados, é o diretor quem confunde o espectador e o deixa com a pulga atrás da orelha.

O julgamento, cada um que dê o seu (ou não).

Representante turco é recebido com indiferença na Berlinale

Possivelmente, o primeiro filme em exibição nesta quarta-feira (16) pela competitiva do Festival de Berlim teve a recepção mais morna da crítica até agora. Nem vaias, nem aplausos, nenhum sinal de que o filme tocou alguém. A impressão era de que o filme passou batido e muita gente o tratou com indiferença.

Baseado no livro homônimo de Barış Bıçakçı, com roteiro dele e do diretor turco Seyfi Teoman, o filme tem como protagonistas Ender e Çetin, amigos desde os tempos de escola, que vivem como um casal em um apartamento em Ankara, capital turca. Seu relacionamento pode ser classificado como um bromance, já que eles não são gays, mas são tão íntimos que têm ciúmes um do outro e parecem possuir um pacto de fidelidade à amizade.

A relação deles é ameaçada quando eles recebem uma nova moradora, Nihal, estudante irmã de um amigo deles, que acabara de chegar à cidade para iniciar os estudos na faculdade, após ter sofrido o trauma da perda dos pais num acidente de carro.

Inicialmente tortuosa, a relação entre o três começa a melhorar quando Nihal quebra a casa de arredia e autoproteção e os dois amigos se vêem apaixonados por ela.

Seyfi explica que trata-se de “um filme sobre desesperos – da perda dos pais, da passagem da adolescência para a fase adulta e da disputa de dois amigos pelo amor de Nihal”. “Os personagens são como representações distintas de Ankara: enquanto Ender é o lado intelectual, esquerdista e romântico aspecto da cidade, Çetin representa o lado mais tecnocrático, realista e pragmático”, continua.

Segundo ele, houve um esforço de não-classificação de relacionamentos, mas o entrosamento entre os personagens precisava cativar, para que o público pudesse acreditar naquela verdade. Isso não acontece, à exceção de alguns poucos momentos engraçadinhos.

Candidato a “não fede nem cheira” do festival, será difícil este turco obter o mesmo êxito que o carismático “Um Doce Olhar” obteve no ano passado, quando levou o Urso de Ouro para a Turquia.



Nietzsche é tema de filme em competição na Berlinale

O filósofo Friedrich Nietzsche realmente não serve para ser personagem de filme. Ao menos não pelas mãos dos chamados diretores de filmes de arte. Muita profundidade agrupada resulta em um produto arrogante e autoexaltador.

Foi o que aconteceu no Brasil, quando Júlio Bressane resolveu rodar uma obra intragável – chamada “Dias de Nietzsche em Turim” – só com declamações de escritos do filósofo e foi o que aconteceu com este novo filme do diretor húngaro Béla Tarr, exibido nesta terça-feira (15), em competição no Festival de Berlim.

Depois da exibição de uma obra atual e leve como o também em competição “The Future”, quem se arriscou a conferir este outro competidor levou um balde de água fria. Foi como se a marcha tivesse sido mudada da quinta para a ré, imediatamente.

De fotografia belíssima, em preto-e-branco, e estética de fome, “The Turin Horse” retorna a 1889, em Turin. Nietzsche sobe em um cavalo de transporte e em seguida perde a consciência. Acorda em algum lugar no meio rural e passa a conviver com um fazendeiro e sua filha, um cavalo e uma carroça (!). Do lado de fora da casa rústica, apenas uma ventania assopra.

Acreditem ou não, esta sinopse refere-se a todos os 150 minutos de filme, divididos em dias, que para o espectador podem parecer meses. Mas é preciso dizer que, quem sobrevive até o fim da sessão tem uma boa surpresa.

Deslocado no tempo, o longa de Béla Tarr talvez encontrasse espaço maior na época em que filme de arte era sinônimo de lentidão e absoluto marasmo. É obra restrita, feita para (muito) poucos.

Cinema para crítico intelectualoide, encontraria “The Turin Horse” lugar na preferência do júri da Berlinale? A resposta, só no próximo sábado (19). 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Novo filme de Miranda July é o alívio cômico da competição em Berlim

O modo como as pessoas se relacionam e a paralisação que a internet pode causar em seus modos de sentir é o tema de “The Future”, filme em competição no Festival de Berlim. É o segundo trabalho da artista plástica Miranda July na direção de longametragens.

Miranda tem um modo muito particular de ver o mundo e expressa isso em seus trabalhos, recheando suas histórias de pequenos elementos surreais, que podem estar contidos de simbolismos, mas podem simplesmente refletir os loucos pensamentos que cada um tem ao se deparar com situações de tensão ou sensação de deslocamento do mundo.

Em “The Future”, Sophie (a própria Miranda) e Jason (Hamish Linklater) formam um casal insatisfeito com suas profissões e a forma com que a internet parece tê-los engessado. Decididos a sair daquela situação, abandonam seus empregos e decidem realizar simples desejdos, em um mês. Jason quer salvar o meio ambiente e integra uma associação de defensores da árvore, enquanto Sophie resolve que irá criar uma nova dança.

Aos poucos, a relação deles vai se enfraquecendo sem que eles percebam. Encontram válvulas de escape diferente e parecem não querer ouvir a verdade um do outro. Ao contrário do que sugere a sinopse, Miranda suaviza a história com uma direção leve e só deixa o drama tomar conta em momentos muito específicos.

O misto de experimentação e comédia peculiar da diretora ainda é o mesmo da sua estreia em “Eu, Você e Todos Nós”, assim como a trilha sonora é parecida e o elementos “internet” e “deslocamento” voltam a se fazer presentes, só que desta vez ela deixa de lado as várias pequenas histórias para focar em apenas uma, mais complexa do que a primeira.

É uma maneira muito sensível de ver o mundo. Seus personagens agem de maneira tão estranha que constituem um mundo ridículo, deprimente, mas extremamente engraçado. É uma perspectiva diferente de os problemas comuns a muitos outros que os encaram como drama.

Como este seu segundo filme, Miranda July renova o próprio estilo, mesmo repetindo tiques de sua primeira obra. Pode até não ser capaz de levar o prêmio máximo na Berlinale, mas era necessário algo assim, para a aliviar a tensão e desobstruir o esôfago.

Filme iraniano arrebata Berlim e é forte candidato ao Urso de Ouro

Surgiu nesta terça-feira (15) o primeiro fortíssimo candidato ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. É “Nader and Simin – a Separation”, filme iraniano dirigido pelo mestre Asghar Farhadi.

Asghar estarreceu a crítica, que o aplaudiu efusivamente ao final da sessão e terá trabalho para descrever em palavras a obraprima que ele apresentou neste festival. Já havia dado uma aula de cinema com seu filme anterior, “Procurando Elly”, e agora retorna com uma obra ainda mais densa, de todo e quaisquer detalhe impecável.

A primeira cena mostra o casal Nader e Simin em frente a um juiz, discutindo sua separação. A mulher quer sair do país e levar sua filha para ser criada em algum lugar onde as regras não sejam tão opressoras quanto no Irã. O juiz não vê motivo para conceder a separação, já que o casal não tem nenhum conflito entre si. Ela (Simin) deixa o lar e o marido precisa contratar uma mulher para cuidar do seu pai, que sofre Mal de Alzheimer. Mas Nader não sabe que a nova empregada não só está grávida como também está trabalhando sem a permissão e consciência do marido.

Depois de alguns acontecimentos, Nader se vê envolvido numa teia de mentiras, manipulações e confrontos públicos.

O diretor constroi uma trama intrigante, usando brilhantemente os elementos que o cinema oferece, colocando elipses no momento certo, diálogos calculados para manter o suspense e só concederem informações no momento certo. A todo momento, surpreende o espectador com novas revelações e o mantém não só atento como tocado por aquela história.

Cada personagem ali é de extrema importância e têm suas ações compreensíveis no contexto da cultura iraniana. Eles mentem pela religião, por medo de Alá (o deus deles), tomam decisões baseados nisso, mentem novamente por medo da sua reputação perante a sociedade ou à família e só aumentam a sua cota de pecados.

Farhadi critica os costumes e a religião do seu país sem precisar ser agressivo. Simplesmente mostra a situação com naturalidade. Se um iraniano assiste ao filme, pode achar tudo completamente normal, mas um ocidental tomará aquilo como crítica, dado o seus conceitos contrários àquelas práticas.

O drama é tão denso que seria cruel dizer que este ou aquele personagem está errado. Cada um nos toca de um forma diferente e à vontade que se tem é de interrompê-los e dizer “pelo amor de Deus, se perdoem, se compreendam”. É difícil conter as lágrimas. A sensação de impotência, de ser um mero espectador, deixa o público com um gosto amargo na boca.

Nader and Simin – a Separation” é uma obra singular, um modelo de construção de roteiro e personagens e de como se fazer cinema, de como se fazer arte. Que Farhadi se mantenha incólume às leis iranianas e que não aconteça a ele o que aconteceu a Jafar Panahi (condenado a ficar 20 anos afastado do cinema, por supostamente fazer propaganda contra o governo iraniano).

É bom lembrar que Asghar já tem prestígio em Berlim – levou o Urso de Prata de direção em 2009, com “Procurando Elly” - e pode agora ter sua obra definitivamente consagrada. Sua glória pode ser também uma afirmação do clamor do Festival pela liberdade de expressão no Irã. Os concorrentes que se virem para tirar o prêmio de Asghar.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ralph Fiennes leva adaptação de Shakespeare a Berlim e arranca aplausos

Foto: Getty Images
Ralph Fiennes aportou hoje (14) na Berlinale para mostrar o seu primeiro trabalho de direção em cinema. Para debutar, ele escolheu a difícil peça de Shakespeare, Coriolanus.

Coriolanus era o maior herói de Roma, mas que, por demonstrar ambição e desprezo pelo povo, causa revolta e acaba sendo banido. Ele resolve então se juntar ao inimigo, Tullus Aufidius, que jurou se vingar da cidade.

Ralph Fiennes interpretou Coriolanus em 2000, na peça shakespeariana, em Londres. “Embora fosse uma peça densa e difícil na sua forma, eu pensava que a narrativa possibilitava naturalmente ser convergida em filme e aquele pensou permaneceu, e se desenvolveu, em minha cabeça”, conta Fiennes.

Numa coletiva de imprensa extremamente amistosa, elenco e equipe fizeram a festa dos jornalistas e deram a elas toda a simpatia esperada. Gerard Butler foi alvo de perguntas nitidamente de jornalistas histéricas, que queriam saber sobre os papéis masculinos e sexys que ele faz, mas respondeu tudo com bom humor. A atriz Vanessa Redgrave derreteu-se sobre a estreia de Fiennes na direção: “desde o começo, sempre confiei nele e no que ele estava fazendo. Este sentimento era geral na equipe”.

Embora a ideia da adaptação tenha partido do ator/diretor, o roteiro foi escrito por John Logan, de “Gladiador” e “O Último Samurai”. Logan diz que ambos enxergavam a adaptação da mesma forma, de que eles não gostariam de fazer uma “peça de museu”, mas fazer a história ser acessível ao público contemporâneo. “Shakespeare tinha uma linguagem difícil e muito específica do teatro. Meu maior trabalho foi pegar isso e adaptá-lo com a mesma força dramática para o cinema”, explica-se o roteirista.

Contemporanizando, mas não facilitando a linguagem, Fiennes realizou uma alegoria política dos tempos atuais, mostrando que a crítica que Shakespeare fazia se faz até hoje. A manipulação do povo pelos governantes, a mudança de opinião de ambas as partes, os interesses pessoais e as traições ganham força no roteiro.

Fiennes realiza em Coriolanus um delírio artístico que poucos entenderão e assim como ser aplaudido pela ousadia, pode ser chamado de megalomaníaco e virar motivo de chacota. A imprensa aplaudiu, mas não deixou de rir no momento do filme em que ele “ressurge das cinzas” cabeludo, para se juntar ao inimigo. Aquela cabeleira sim, deveria ser suprimida.

Apesar de o elenco inteiro falar inglês, mesmo a história se passando em Roma, estão todos muito bem e Fiennes, à vontade num papel que já lhe pertenceu nos teatros por muito tempo, se destaca. Com a mesma força que ele, só mesmo Vanessa Redgrave, no papel de sua mãe.

Ralph Fiennes arriscou e petiscou uma boa estreia na direção e ainda contou com a excelente direção de fotografia de Barry Ackroyd e o trabalho de som de Ray Beckett, que pode garantir presença no Oscar do ano que vem, por isso. Mas o provável reconhecimento, pelo menos do agora também diretor, poderá vir ainda neste Festival de Berlim.

A hora e a vez das comédias em Berlim

Uma série de comédias leves têm ganho a simpatia do público no Festival de Berlim.

O alemão “Almanya” já havia arrancado risadas ao mostrar a relação entre os alemães e os turcos imigrantes na Alemanha, no sábado (12).

No domingo (13), foi a vez do italiano “Gianne e Le Donne” ganhar uma sessão especial, lotar uma enorme sala de cinema em Alexanderplatz e proporcionar momentos divertidos ao público, que pôde falar com o diretor e protagonista do filme, Gianne di Grigorio. O filme trata de uma homem na crise da meia-idade, solteiro, tendo de cuidar da mãe caduca e sem conseguir arrumar uma namorada.

Tive a ideia deste filme há alguns anos, quando percebi que mulher nenhuma olhava mais para mim. Quando meus amigos começaram a pintar os cabelos e gastar dinheiro com motocicletas, aí entrei em pânico de vez”, disse Gianne no mais carregado sotaque italiano, arrancando risadas e aplausos dos presentes.

Nesta segunda (14), a função de divertir coube à produção francesa “Les Femmes du 6ème étage”, do diretor Philippe Le Guay.

Trabalhando bem muitos clichês de comédia romântica, o filme se passa na França pós-Guerra Civil Espanhola. O quinto andar de um prédio antigo é ocupado por Jean-Louis, um empresário bem sucedido, que vive no maior conforto com sua mulher, Suzanne. Já no sexto andar, mora um grupo de domésticas espanholas, vivendo em uma situação precária, desconhecida pelo nobre morador do andar de baixo.

Foto: Getty Images
Quando a sobrinha de uma das empregadas se muda para a França e vai trabalhar na casa dos afortunados, os olhos do patrão se voltam para ela e aquele mundo, simples, mas muito divertido. Uma das empregadas é interpretada por Carmem Maura, a atriz protagonista de boa parte dos filmes de Almodóvar. Sobre a experiência de fazer um filme francês, Carmem contou, em bom espanhol: “Somos (franceses e espanhois) como um mar de contrastes. Mas foi ótimo, porque no set haviam muitos espanhois e os franceses nos tratavam sempre com clima festivo. A verdade é que as espanholas sempre falavam alto e falavam muito e esta diferença era divertida”.

Ao final desta sessão, um foco de vaia surgiu, mas logo foi suprimido por muitos aplausos. Um pouco de bom humor não faz mal a ninguém.

Produção russa aborda Chernobyl no Festival de Berlim

O acidente nuclear de Chernobyl foi o tema do primeiro filme em competição a ser exibido nesta segunda-feira, pelo Festival de Berlim.

Produção russa dirigida e roteirizada por Alezander Midadze, “An Innocent Saturday” tem como protagonista Valery Kabish, o único a ter consciência da explosão que ocorrera na Usina Nuclear de Chernobyl. Era uma sábado e poucos eram os meios de sair da cidade.

Valery tenta levar a namorada, Vera, para fora da cidade, mas a quebra de um salto os faz perder o único trem do dia, a perda de um passaporte os impede de passar pela fronteira e o casamento de grandes amigos do jovem se iniciava naquela manhã.

Inconsciente do perigo que corriam, Vera acaba por levar Valery para a festa. É ela a personagem que deveria ganhar um troféu-irritante do Festival de Berlim. Ela ri da cara do namorado, age com uma infantilidade absurda e prefere comprar sapatos a buscar solução com o namorado. Ele, por sua vez, se passa por idiota, mas entende-se que, já sabendo que está contaminado e sem muitos meios para sair do local, entrega-se à situação e perambula pela cidade e pelo casamento, inativamente, como um corpo já sem alma.

Exagerando na câmera na mão, a cinematografia faz enjoar e, sem algo que nos condeleça com os personagens, nos resta esperar pelo previsível final. Enquanto isso, desfilam na tela tipos que agem teatralmente, que tomam ações que geram reações imediatas e sem sentido.

O discurso de que as pessoas não atentaram para o perigo que corriam não acobertam os erros desta obra enfadonha que dividiu as opiniões da crítica na Berlinale, mas que, a depender da visão que o júri presidido por Isabella Rossellini tenha desta arte, pode beliscar algum prêmio no festival. Será uma pena, especialmente numa edição em que o festival tem oferecido tantas produções interessantes. 
 
 
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