Paul
Laverty, roteirista de quase todos os filmes de Ken Loach –
inclusive do hilário e surreal À
Procura de Eric,
trabalhou durante anos numa história sobre os primeiros anos de
Colombo na América, até perceber que poderia fazer algo mais
interessante e novo, trazendo o tema da exploração das terras por
terceiros e a resistência dos nativos indígenas para os tempos
recentes.
Encontrou
na Guerra da Água em Cochabamba, em 2000, o perfeito exemplo de
resistência civil à privatização do bem mais valoroso à
população. O resultado do esforço de criatividade foi um roteiro
complexo, de trama intrincada e multifacetada.
Uma
equipe de filmagem chega à região de Cochabamba para filmar uma
adaptação da história da chegada de Colombo às Américas e como a
produção intenciona ser realista, precisam formar o elenco com
moradores locais. Por insistência do diretor Sebastian (Gael Garcia
Bernal), o produtor Costa (Luis Tosar) contrata Daniel (Juan Carlos
Aduviri) para um dos papéis principais do filme. O espírito de
liderança de Daniel poderia ajudar a equipe a lidar com os muitos
amadores do elenco, mas o problema é que Daniel não é líder só
no set de filmagens. Ele é também o líder (arisco) de uma revolta
civil prestes a estourar na cidade, contra a tal privatização da
água.
O
diretor teve de lidar com três filmes em um: o filme sobre a
privatização da água em Cochabamba, o filme que reconta a história
da chegada de Colombo analogicamente e o filme sobre o filme. Para
este último caso, ele ainda utiliza de meta-metalinguagem, ou seja,
um making
of
sobre o filme do filme, utilizado para explicar os personagens.
Complicado, mas fácil de entender quando se assiste.
Complicado
talvez tenha sido para Eva Leira e Yolanda Serrano, as diretoras de
elenco, ter de lidar com tantos atores sociais, mas ou elas fizeram
isso muito bem ou deram muita sorte, porque os moradores da região
atuaram excepcionalmente bem, ao lado de duas grandes atuações
profissionais como a do Gael Garcia Bernal e principalmente de Luis
Tosar, incrível como o produtor Costa.
Costa
que é, na verdade, o coração do filme. Não à toa é o produtor.
É ele quem tem que tomar as decisões mais difíceis, assim como tem
a relação mais próxima com a população e, por isso, também se
envolve mais nos conflitos e com as pessoas, emocionalmente. Pode até
ser estereotipado, mas aqui cada um exerce a sua função e Icíar
Bollaín (o diretor real) o faz com fidedignidade.
Com
suas semelhanças com a saga épica do Fitzcarraldo
de Werner Herzog, Também a Chuva é uma megaprodução espanhola,
merecedora da escolha daquele país para ir ao Oscar deste ano e,
apesar de contar com concorrentes fortes, não deixou de merecer
também o prêmio do público no Festival de Berlim.
Trailer:
(También
la Lluvia, Espanha/França/México, 103 minutos, 2010)
Dir.:
Icíar Bollaín
Com
Gael Garcia Bernal, Luis Tosar
Nota
8,5
2 comentários:
você está estudando muito rapaz! sinto falta de suas resenhas (para ler depois do filme, claro!)
Ju, eu adoraria postar mais, só que está cada dia mais complicado. Vamos ver se depois o tempo melhora. Grande abraço!
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