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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sessão-besteirol: Ráis Cul Míuzical

Mais de um mês se passou desde a postagem da primeira sessão-besteirol, mas eu não esqueci dela. A postagem bombou e o número de visualizações do vídeo mais que dobrou depois que o postei no blog. Então, chegou a hora de mostrar mais um videozinho que a Lu Nasser redublou, em parceria com o Tito Patini.

O zombado da vez é o seriado High School Musical. Vamos rir um pouquinho, sem compromisso?


terça-feira, 28 de junho de 2011

Dublê de Anjo


De plasticidade o indiano Tarsem Singh entende. Ele já havia dirigido o fotograficamente belo, mas completamente desprovido de conceitos e inteligência A Cela, filme de 2000 com Jennifer Lopez. Daí em 2006 ele ressurgiu com The Fall, drama fantasioso que recebeu o horroroso título brasileiro Dublê de Anjo.

A trama se passa num hospital nos arredores da Londres de 1920, onde um dublê ferido conta histórias para uma outra paciente, uma menina de braço quebrado. Graças à mente debilitada do dublê, a história imaginativa e de cores intensas sobre cinco heróis místicos, se mistura, no decorrer do tempo, com a realidade.

A evolução é notável, mas ainda é ingênuo demais e até simplório. O nível de história já melhora a vistas grossas, mas os diálogos ainda são sofríveis, clichês ao extremo. O que continua lá e também melhor que em sua estreia é o visual arrebatador de uma direção de fotografia maravilhosa.

O fato da maior parte das sequências serem histórias fantásticas para criança dão toda a liberdade para se colocar em cena o que quiser, usar e abusar das cores e do surrealismo e da falta de continuidade sem ter que se explicar muito.

Este filme é um colírio para os olhos, que só foi um fracasso de bilheteria porque ninguém se deu ao trabalho de divulgá-lo. Ok, o elenco é muito ruim e não ajuda, mas pelo menos não atrapalha tanto assim. No Brasil, o filme teve pelo menos a sorte de chegar às locadoras.

O diretor Tarsem, por enquanto, ficou só no “quase”. Mas se um dia conseguir aliar sua capacidade de elaboração de cenas belas com um roteiro bom, pode ser imbatível. Dois novos longas já estão a caminho e talvez deem um bom caldo: o novo investimento dos produtores de 300, chamado Immortals, sobre um guerreiro grego; e uma versão sombria para Branca de Neve e os Sete Anões, com Julia Roberts no papel da Rainha Má. É esperar para ver. Enquanto isso, dá para se divertir com este Dublê de Anjo.

Trailer:

(The Fall, EUA/Índia, 117 minutos, 2006)
Dir.: Tarsem Singh
Com Lee Pace
Nota 7,0

sábado, 25 de junho de 2011

Hold Your Horses - 70 Millions

Não é cinema, mas é uma produção audiovisual de ideia super original e muito bem executada. O clipe "70 Millions", da banda francoamericana Hold Your Horses.

Os caras resolveram fazer reconstituições de pinturas famosas, que vão de Van Gogh a Rembrandt. A maioria das referências é bem clara e é divertido tentar identificar cada um dos quadros, além de curtir a música, que também é bem boa - clima de feel-good-music.

Fico só imaginando o trabalhão que teve o pessoal da direção de arte e o pessoal da iluminação... Para aqueles que se interessarem na brincadeira do "adivinha", segue também um vídeo com todos os quadros originais - a maioria com identificação de nome, autor e data.

Clipe:


Identificação dos quadros:

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crítica: Kung Fu Panda 2


Quando Kung Fu Panda estreou em 2008, o elogio mais comum de se ouvir era de que se tratava de uma empreitada ousada e criativa da Dreamworks e que apresentava ao público personagens encantadores, uma boa mescla entre o estilo de filme hollywoodiano com o charme da cultura asiática, particularmente a chinesa.

Quão surpreendente foi esta sequência que, com tudo para ser ainda melhor que a primeira parte, afundou-se em recursos surrados de contar a origem dos personagens, levou ao extremo o lema atual de ser cada vez mais sombrio e com isso, matou tudo que o urso Po e companhia tinham de melhor.

Depois de um tempo de vida pacata no Vale da Paz, Po e seus companheiros Guerreiros do Dragão precisam cruzar o país em busca do lorde Chen, um novo inimigo, possuidor de uma arma secreta que pode acabar com o kung fu e permitir que o malvado vilão domine a China. Ao mesmo tempo, Po tem em si despertada a vontade de saber de onde veio e precisa encontrar os seus pais biológicos, depois que seu pai ganso lhe conta que ele é adotado.

Ironicamente, agora que o panda está mais “em forma” e já sabe – ou pelo menos deveria, segundo o primeiro filme – lutar, a leveza se perdeu e com ela, foi-se a graça. Dá para contar nos dedos da mão esquerda do Lula quantas vezes o filme arranca-nos alguma risada.

O que se sobressai aqui são apenas os recursos técnicos, cuja evolução em relação ao primeiro é nítida e o investimento em acessórios orientalizados é ainda maior e acertado. Mas onde está a graça do urso comilão e bonachão? Onde foi parar a química entre ele e os seus companheiros guerreiros do Dragão? Aliás, o que fizeram com estes personagens periféricos? Os coitadinhos quase sumiram e passaram a desempenhar aqui apenas o papel de ajudantes de Po.

Além dos antigos coadjuvantes perderem função, não é possível encontrar, dentre a dúzia de novos personagens, um só que tome para si a responsabilidade de fazer rir, como é de praxe acontecer em sequências de animação.

Panda 2 sofre pelo exagero da maldade. Enquanto prega paz interior, promove a guerra e a destruição. Para se ver até que ponto chegou a distorção dos conceitos. Um dos últimos comentários da Tigresa é de que “isso foi realmente barra pesada”. Há que se concordar com ela.

Tudo muito escuro, tudo muito cheio de informação desnecessária, tudo muito mais sério do que deveria ser. É a síndrome da megalomania, que impede que este povo enxergue que menos pode sim, ser mais.

Trailer:

(idem, EUA, 90 minutos, 2011)
Dir.: Jennifer Yuh
Com as vozes de Jack Black, Angelina Jolie, Jackie Chan, Lucy Liu, Jean-Claude Van Damme, Dustin Hoffman, Seth Rogen
Nota 3,0

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Crítica: Reflexões de um Liquidificador


Uma mulher de meiaidade (Ana Lúcia Torre), ex-taxidermista, mata o marido com a ajuda de um liquidificador falante. Vai à polícia dar queixa sobre o desaparecimento do dito cujo, com quem viveu durante 40 anos, mas logo é tida como a principal suspeita do crime.

Reflexões de um Liquidificador é uma mistura de O Cheiro do Ralo com Estômago, ambas referências muito boas, mas com características singulares e marcantes que deixam de funcionar a partir do momento que repetidas. A fotografia e os cenários de tons sépias, a trilha sonora com os assobios do liquidificador, o estilo de comédia fantasiosa, com doses altas de surrealismo, não há nada que não possa ser remetido aos aqui influentes.

A excentricidade que fez bem aos outros filmes até que fez bem a este aqui também, mas não me sai da cabeça que esta poderia ser uma ótima história de terror. A morbidez do tema, a interpretação contida e medonha – isto é um elogio – de Ana Lúcia Torre, aquela casa sombria e aquele detetive asqueroso. Mesmo com o óbvio motivo de risada que é aquele liquidificador falante, consigo ver ali uma história de terror horripilante. Mas enfim, terror brasileiro não vende. Comédia sim – o que também não foi o caso desta, com distribuição limitada, pouca divulgação e consequente baixo público.

Apesar de não fazer rir como poderia, a história criada por José Antonio de Souza e dirigida por André Klotzel é diferente e interessante. As tais reflexões do liquidificador são boas e, especialmente quando ele reflete sobre o corpo humano no fim do filme, bem organizadas, o que nos faz até levar a sério um aparelho pensante.

A dublagem do liquificador fica por conta de Selton Mello e o filme ainda conta com a participação da divertida Fabíula Nascimento (Estômago) e Germano Hauit (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias). Ah, sim! O longa ainda trás uma ponta da esquecida Gorete Milagres – aquela, do bordão “Oh, coitado!”. 

Trailer:

(idem, Brasil, 80 minutos, 2010)
Dir.: André Klotzel
Com Ana Lúcia Torre, Germano Hauit, Fabíula Nascimento, Selton Mello
Nota 6,5

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Curta: Recife Frio


Uau! Isto sim é que é um mockumentary (falso documentário).

Estava curioso para assistir Recife Frio desde que ele ganhou três prêmios (direção, filme e roteiro) no Festival de Brasília em 2009, onde fez sua estreia e gerou o maior buchicho no festival. Dali para adiante, passou pelo Festival Internacional de Curtas no Rio e pelo Festival de Recife, dentre outros, sempre arrebatando os principais prêmios. Foi também exibido no Festival de Rotterdam, em 2010.

Com sorte, não demorou tanto para ser disponibilizado no Youtube – e a espera valeu a pena. Kleber Mendonça Filho surpreendeu e convenceu – algo importante quando se trata de um mockumentary – ao “documentar” a época trágica em que uma onda de ar frio invadiu Recife e mudou toda a atmosfera da cidade, levando consigo o tempo em que o sol predominava.

Toda a paisagem e a dinâmica da cidade mudou e o roteiro explica tudo brilhantemente, sem deixar pontas soltas. Não só questões teóricas são explicadas, como também a situação política e econômica da cidade, assim como questões práticas na vida dos moradores.

Até as cenas que não foram filmadas em Recife foram muito bem tratadas e nem dá para dizer que tudo que se vê não é Recife. A montagem, a edição, a narração, o roteiro. Um primor de curtametragem que vale o ingresso de um longa.

Curta:

domingo, 12 de junho de 2011

Crítica: X-Men Primeira Classe

O "menos pior" dos cartazes

Segundo especialistas em bilheteria, o péssimo resultado qualitativo de “X-Men – Wolverine” fez com que o público ficasse com um pé atrás com este reinício de franquia e não comparecesse como deveria nos cinemas. O filme foi a pior estreia dos cinco longas dos mutantes, o que foi uma pena. A título de comparação, X3 estreou há cinco anos com cerca de 102 milhões de dólares em caixa, enquanto que este arrecadou apenas 55 milhões em seus primeiros dias.

O roteiro bem amarrado nos leva de volta às raízes dos mutantes, quando grupos deles se reuniram pela primeira vez. Professor Xavier e Magneto já são o centro das atenções, mas ainda trabalhavam juntos, muy amigos. Além desta relação, outras muitas também são mostradas, contando como se formou a dinâmica de equipes “do mal” e “do bem” que acompanhamos nos três primeiros longas.

A maior diferença deste para os outros filmes da franquia é que, ao invés de desenvolver apenas alguns protagonistas e ter o restante como apoio para a ação, este roteiro consegue equilibrar as atenções e desenvolver bem todos os seus personagens. Apenas alguns laços é que se reforçam rápido e inexplicado demais, como a relação da Mística com o Magneto. E enquanto a maior parte das sequências tem seu impacto, outras surgem como forçação de barra, como uma terrível cena em um bar mexicano na Argentina (!!), com clientes alemães dando uma de durões. Mas, no geral, é uma história cuidada nos pequenos detalhes e até tem uma surpresinha que vai arrancar gargalhadas do público.

Outro ponto positivo é o entrelaçamento do surrealismo dos mutantes com contextos históricos reais – no caso, a Segunda Guerra Mundial e a ameaça de uma Terceira, quando URSS e EUA quase declararam Guerra, numa tensão gerada pela descoberta de mísseis soviéticos em Cuba, apontados para os EUA, nos anos de 1960. Elementos documentais da chamada Crise dos Mísseis de Cuba permeiam o longa, reforçando a ideia da série de que os mutantes existem e estão entre nós.

O elenco é um dos trunfos, com destaque para James McAvoy (Desejo e Reparação), Michael Fassbender (Hunger) e Jennifer Lawrence (Inverno da Alma). Como nem tudo é perfeito, somos obrigados a aguentar mais uma péssima atuação de Kevin Bacon, que sabe-se lá como conseguiu um lugar ali.

A versão que o diretor Matthew Vaughn (Kick Ass) representa um novo fôlego para a série. Um empolgante recomeço que deixa vontade de assistir logo as próximas sequências, com os outros tantos mutantes que fazem parte do imaginário nerd mundo afora. Mas tomara que não hajam outros “recomeços”, porque aí ninguém aguenta.

Trailer:
(X-Men: First Class, EUA, 132 minutos, 2011)
Dir.: Matthew Vaughn
Com James McAvoy, Michael Fassbender, Jannifer Lawrence, Nicholas Hoult, Kevin Bacon
Nota 8,0


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Crítica: Namorados para Sempre


Terminar um relacionamento não é fácil. Às vezes, começar também não. A verdade é que mantê-lo é que é o mais difícil. Ora com poesia ora sem poesia alguma, é com esta visão realista que o diretor Derek Ciafrance transpõe para a tela um dos amores mais comuns: aquele que é baseado na ocasião, quando nunca realmente existiu.

Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams) não vivem o melhor dos momentos no casamento, mas fazem de tudo para esconder isso da filha. Ele faz de tudo para melhor a situação, mas ela, por algum motivo, não parece mais disposta a trilhar aquele caminho.

Por mais que o personagem de Ryan Gosling seja extremamente bonzinho e simpático, fica claro que existem motivos reais para a frustração da mulher. É com uma montagem sutil e de difícil leitura – para o espectador acostumado a linearidades – que o filme explicará, bem aos poucos, indo e vindo através dos anos, porquê o casamento não deu certo.

O primeiro quarto do longa é dedicado a construir a mise-en-scène de crise, deixando fértil o terreno para o que se segue. “Como confiar nos seus sentimentos, quando eles desaparecem?”, pergunta a filha. “Acho que você só poderá descobrir, se tiver o sentimento”, responde a avó. Naquele diálogo aparentemente solto no meio do filme reside a chave para a sua total compreensão.

Salvo raros momentos românticos encantadores – vide Cindy dançando na rua ao som do banjo de Dean – é no clima depressivo que o filme se baseia. É num quarto de motel, de decoração futurista, capenga e azulada que o diretor encontra o cenário perfeito para desenvolver o seu blue valentine.

Ryan Gosling ficou fora do Oscar, infelizmente, mas a justiça se fez pela indicação de Michelle. Sua Cindy soa misteriosa, é menina, vadia, mãe, enfermeira, frígida e fogosa. Tudo ao mesmo tempo. Defeituosa e qualitativa, é afinal, absolutamente humana.

A fervura ou frieza do casal não é fruto do acaso. É influenciado por circunstâncias, pessoas e desejos oprimidos. O que se passa hoje é resultado do que foi construído desde o passado. O longa nos joga na cara que, por estas e por outras, não podemos julgar as atitudes de cada um (por mais estranhas que pareçam no momento), sem sabermos exatamente o quê as levou a cometê-las.

Filme de baixíssimo orçamento (apenas 1 milhão de dólares), “Blue Valentine” é mais um indie que mostra que a força de uma obra está no seu roteiro e na paixão com que seus envolvidos a realizam. Com depressão e realismo, mostra que a música que embala o amor pode ser a mesma que embala o ódio e a mágoa.

Trailer:

(idem, EUA, 112 minutos, 2010)
Dir.: Derek Cianfrance
Com Michelle Williams, Ryan Gosling
Nota 8,0


terça-feira, 7 de junho de 2011

Crítica: Enter the Void


Gaspar Noé já havia chocado o mundo do cinema em 2002, com seu polêmico (e de muito mal gosto) Irreversível, no qual ele explorava cenas fortes de estupro. Apedrejado por uns e ovacionado por outros, encontrou recepção semelhante com seu novo trabalho, Enter The Void, que estreou no Festival de Cannes em 2009, mas só começou a carreira um ano depois, não tendo, até hoje, alcançado o circuito brasileiro.

A grande vantagem deste para Irreversível é que o que atraía a atenção para aquele era uma fator vazio (cenas chocantes), enquanto que neste os fatores patentes são os técnicos – especialmente a direção de fotografia – e os ideológicos (através do roteiro).

Nascido na Argentina e graduado na França, Noé trabalhou no projeto por cerca de 20 anos. A intenção era discursar sobre a experiência do quase-morte, através de uma visão subjetiva. A curiosidade sobre o assunto foi tanta, que o diretor declarou que ele mesmo já tentou várias vezes “sair” do próprio corpo, através de experiências de privação do sono, hipnose e até substâncias ilícitas. É com esta vibe alucinógena que ele desenvolveu todo o filme.

A própria abertura já testa os nervos dos espectadores, com um profusão absurda de cartelas de créditos, numa gama imensa de fontes e cores de letreiros, num resultado que Quentin Tarantino definiu como a melhor abertura de filme da história. Realmente, é muito boa, mesmo eu não achando que seja a melhor. Mas uma coisa já deixa claro: se você é epiléptico ou sofre de enjoo, não assista o vídeo.

A história se inicia num destes apartamentos minúsculos de algum gueto de Tóquio, onde moram os irmãos Oscar e Linda. Ele trabalha como traficante de pequeno porte e ela como stripper em uma boate. Ambos sofreram um trauma na infância, quando sobreviveram ao acidente de carro que matou seus pais. Oscar jurou, então, cuidar da irmã para o resto da vida – e até depois dela.

Viciado em DMT, alucinógeno que supostamente provoca o efeito de “saída” do corpo, Oscar se mete em encrencas que culminarão com sua morte.

Até este momento, a visão que temos da história já é subjetiva, através dos olhos de Oscar. Já ali a movimentação de câmera impressiona (e incomoda), com o piscar dos olhos constante e a sensação de embriaguez do personagem. É tudo feito quase que em planossequência, numa manipulação brilhante, cujos cortes de montagem são quase imperceptíveis. Além do uso de CGI (computação gráfica) melhor acabado até em hoje, no que se diz respeito a filmes de arte.

A partir do momento que o jovem morre, o filme entra num ritmo mais lento e embriagado, revezando os enquadramentos entre infindáveis (e vertiginosas) zenitais (ângulo no qual vemos a cenas por cima) e over shoulders (atrás dos ombros do personagem). São estes ângulos e sequências lentas que talvez sejam o ponto fraco do filme, porque apesar de serem justificados e muito bem utilizados, cansam não só as vistas, como se repetem demais.

Não há técnica que sustente o encantamento num projeto assim por 160 minutos de película e quando isso acaba, cabe à história reacender o interesse, o que também demora um tempinho. Ou seja, roteiro e técnica andam de mãos dadas na primeira hora, ambos se perdem na segunda e se reencontram para uma sequência final de 40 minutos de pura genialidade.

O Japão das luzes e das cores é o veículo perfeito para as alucinações práticas e teóricas do diretor, que não teve medo de ousar e de causar polêmica através das suas ideias. Se existe reencarnação ou vida pós-morte, Noé a imaginou e simulou da maneira mais crível que qualquer outro filme espiritualista já tenha tentado fazer.

Enter The Void faz um mergulho alucinógeno e depressivo na morte, no que vem um pouco antes e um pouco depois dela. É feito para (e consegue) atordoar a cabeça de alguns e causar repúdio em outros – o que é natural, quando se trata de ideias tão radicais. Um projeto ambicioso, realizado com primor e cuja megalomania é justificada pelo valor artistíco que o filme possui.

Abertura:

(idem, França/Alemanha/Itália/Canadá, 160 minutos, 2009)
Dir.: Gaspar Noé
Com Nathaniel Brown, Paz de la Huerta
Nota 9,0

sábado, 4 de junho de 2011

3 Porcento: a (futura) nova série de sucesso no Brasil

O Brasil ainda não conseguiu produzir uma série de ficção científica sem que isso seja levado para o lado besteirol cômico (como "O Sistema", exibido na Rede Globo em 2007), mas isso pode mudar, desde que o pessoal das produtoras Maria Bonita Filmes e Nation Filmes encontre um canal de tevê que se proponha a produzir a série 3 Porcento.

O projeto já ganhou dois concursos de desenvolvimento e produção de piloto para tevê, mas ainda falta o contrato para produzir e exibir a série completa. Por enquanto, o que está disponível são as três partes do piloto já produzido.

A série acompanha a luta dos personagens para fazer parte dos 3% dos aprovados que irão para o Lado de Lá. A trama se passa em um mundo no qual todas as pessoas, ao completarem 20 anos, podem se inscrever em um processo seletivo. Apenas 3% dos inscritos são aprovados e serão aceitos em um mundo melhor, cheio de oportunidades e com a promessa de uma vida digna. O processo de seleção é cruel, composto por provas cheias de tensão e situações limites de estresse, medo e dilemas morais.



Com influências declaradas - segundo o canal da série no Youbtube - de filmes como Metropolis, O Processo, 1984, A Experiência, Código 46, Blade Runner, THX 1138 e até o seriado Lost, o pessoal conseguiu, com poucos recursos financeiros e sem precisar utilizar efeitos visuais mirabolantes, construir um mundo fictício sinestésico cuidado nos mínimos detalhes.

Em entrevista exclusiva (e com muita simpatia) para o blog, por e-mail, Pedro Aguilera, criador e roteirista da série, explica que "a ideia veio por influência de distopias que estava lendo na época". "Uma das coisas que mais me atraiam nos conflitos dos jovens brasileiros era a dificuldade de entrada no mercado de trabalho (e outros tipos de seleção), por isso pensei em exagerar essa característica da nossa sociedade, criando esse processo único, cruel e intenso para os personagens enfrentarem". 

Pedro e os três diretores da série - Daina Giannechini, Dani Libardi e Jotagá Crema - estudaram Audiovisual juntos, na ECA-USP. Mirando longe, os quatro ousaram ao convidar nomes renomados para formar a equipe. "Foi incrível que essas pessoas como diretor de arte Fabio Goldfarb, o montador Márcio Hashimoto, o músico Érico Theobaldo, o preparador de atores Roberto Áudio, o desenhista de som Edu Mendes, que foi nosso professor na faculdade, o fotógrafo Zé Bob Eliezer - que a gente já era muito fã - tenham se interessado pelo projeto e agregado tanto ao 3%. E a equipe de produção, com a Camila Groch, e direção (assistentes de direção, continuísta) nos deu um suporte que foi fundamental para conseguirmos realizar esse trabalho", conta Daina, uma das diretoras.

Daina explicou ainda sobre a busca de verba para continuar a produção: "Os produtores da Nation Filmes estão nos apoiando e correndo atrás de canais de TV interessados. Vencemos o Festival Internacional de TV no Rio de Janeiro em 2010 e vamos ao Festival de TV de Nova York no segundo semestre. Então o projeto ainda tem boa visibilidade. A recepção na internet está nos deixando muito felizes. Estamos esperançosos que conseguiremos o financiamento de alguma rede de TV para os próximos 12 episódios dessa primeira temporada". 

Desde a montagem de timing preciso, o elenco de boas atuações, a trilha sonora e uma qualidade fotográfica incrível, o projeto foi todo muito bem pensado e elaborado até agora. A história é intrigante e tem quê de vício que deixa a curiosidade aguçada para os próximos capítulos.

Sobre isso (o futuro da série), Daina Giannechini também falou um pouco: "O que se pode esperar é que o universo de '3%' é mais complexo que aparenta. E que conhecer os protagonistas vai ser uma experiência intensa, especial, já que eles terão que se superar nesse ambiente tão duro.  Não podemos dar spoilers sobre o Lado de Lá (risos), mas o que podemos dizer é que o jeito que pensamos a direção é sempre mesclando o uso de efeitos de pós com a construção de coisas reais. Às vezes somos ligeiramente megalomaníacos, mas priorizamos a forma mais simples e que funciona melhor na tela, e sempre evitando deslocar o foco de atenção para os efeitos em si. Durante um bom tempo da temporada, vamos continuar trabalhando essa coisa crua, do concreto, das salas e corredores sem muitos adornos, tudo para deixar o ambiente tenso, e poder aprofundar no aspecto psicológico. A ideia é revelar a complexidade desse universo aos poucos, afinal de contas, retratamos um outro mundo em outro tempo, diferente dos nossos, mas com características que fazem pensar sobre o nossos próprios".

Boa sorte à equipe e que o projeto se conclua logo! 

Abaixo, o que já foi disponibilizado até agora. Assistam a primeira parte e eu duvido que não vão querer assistir as outras também.

Parte 1:

Parte 2:

Parte 3:

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Curta: Não Gosto dos Meninos

Lembram do preview que postei há pouco mais de uma semana no blog? Pois é, não demorou e o curta "Não Gosto dos Meninos" já foi publicado no íntegra na internet.

O curta cumpre exatamente o que o trailer previa: trata de maneira extremamente realista a situação do que é crescer sendo gay e do constante processo de redescobrimento e desconstrução e construção de conceitos, ideias e identidade, para si e para a sociedade. Uma abordagem não só necessária, como urgente, de um tema que assusta e reprime muita gente até hoje, mas que não deveria nem ser assunto mais.

Gustavo Ferri, um dos diretores do curta, comentou - assim mesmo, em letras garrafais - em seu canal do Youtube, deixando clara a intenção deste trabalho: "SOU O GUSTAVO FERRI, UM DOS DIRETORES DO FILME. SOU HETEROSSEXUAL, CASADO E COM UMA FILHA DE 3 ANOS. NÃO APENAS EU PERMITO QUE A MINHA PEQUENA ASSISTA AO FILME, COMO ELA FOI AO LANÇAMENTO DO FILME, E EU FAÇO QUESTÃO QUE ELA VEJA E REVEJA O FILME QUANTAS VEZES FOR. MINHA FILHA ESTÁ CRESCENDO SEM NENHUM TIPO DE PRECONCEITO. PARA ELA, A TIA QUE É CASADA COM A MULHER DELA É ABSOLUTAMENTE IGUAL A TIA QUE É CASADA COM UM HOMEM. ELA NEM AO MENOS SE DÁ CONTA DA DIFERENÇA, POIS NÃO HÁ."

É isso aí. E que bom que o formato escolhido foi o de curtametragem, porque proporciona um alcance maior do que um possível lançamento de longametragem nos cinemas poderia ter e não só pode, como já tem se espalhado rapidamente pela internet. Espero que muita gente ainda possa assistí-lo, porque sim, ele (ainda) é necessário.

Trailer:
 
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