Já tem um tempo que o cinema brasileiro vem acordando para o fato de que é preciso adaptar para o cinema suas grandes histórias e personalidades. A prática é comum nos países em que o cinema é mais desenvolvido do que aqui e, geralmente, boas bilheterias são o resultado.
Depois de filmes como Cazuza – o Tempo Não Pára, Olga, e Dois Filhos de Francisco, além de diversos documentários sobre nomes importantes da história nacional – especialmente no campo musical – é chegada a vez do médium Chico Xavier ter sua cinebiografia realizada, cuja estreia acontecerá nesta sexta-feira (02), véspera do centenário do Chico.
A direção desta grande produção, estimada em 12 milhões de reais, ficou a cargo de Daniel Filho, responsável por levar multidões aos cinemas com a franquia Se Eu Fosse Você. O filme é uma das grandes apostas de público do cinema nacional neste ano e a julgar pelo potencial de filmes espíritas descoberto com Bezerra de Menezes: o Diário de um Espírita, tem tudo para alcançar seus objetivos, ainda mais com uma figura tão idolatrada como Chico Xavier, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1981.
O filme é baseado no livro “As Vidas de Chico Xavier”, do jornalista Marcel Souto Maior e o roteiro é assinado por Marcos Bernstein (Zuzu Angel).
Ateu, o diretor trouxe uma visão distanciada da história, o que talvez pudesse ser bom, mas não o foi. Seu trabalho tem uma incômoda frieza que engessa o potencial emotivo do longa, ameaçando emocionar em uma única cena protagonizada por Tony Ramos e Christiane Torloni, mas que alcança êxito por ser cortada antes da hora. A fé que movia o espírita e seu seguidores não contagia, provavelmente pelo fato da montagem não dar tempo para a emoção fluir.
O médium é interpretado por três atores: Matheus Costa (infância), Ângelo Antônio (juventude) e Nelson Xavier (fase mais madura). Os dois primeiros têm interpretações esforçadas, mas ficam completamente ofuscadas pelo trabalho brilhante do terceiro, que tem a maior parte de suas cenas concentradas no programa Pinga Fogo, que tornou-se um grande clássico após a participação de Chico Xavier.
A produção traz erros grotescos de sonoplastia e dublagem dos personagens, principalmente do menino Matheus Costa, sem sincronia nas falas. Outro problema é a trilha sonora, que deveria apostar em temas mais emotivos, mas também cai na questão da frieza e não ajuda nos momentos em que poderia emocionar o público.
Mas há que se aplaudir o trabalho da direção de arte, reconstituindo com a maior competência as três épocas em que se passa o filme. Os detalhes são muito bem cuidados, desde a decoração das casas do município de Pedro Leopoldo, até a reconstituição de uma fábrica de tear e o principal: o programa Pinga Fogo, que rende as melhores sequências.
Talvez o maior mérito do filme seja o de trazer ao público mais jovem a história desta grande figura humana. Mas com potencial para tornar-se uma grande obra, por pouco não ficou abaixo da linha da mediocridade.
O sucesso de público é quase garantido, mas Francisco Cândido de Paula Xavier merecia uma homenagem melhor.
Trailer:
(idem, Brasil, 125 minutos, 2010)
Dir.: Daniel Filho
Com Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Tony Ramos, Christiane Torloni