Olha,
tem umas coisas que eu não consigo entender no cinema nacional – e
que sim, me irritam. Este tal de Brasil
Animado, por
exemplo: numa época em que já está mais que comprovado que
animações em 2D não chamam mais públicos e que filmes bobinhos
demais só servem para passar na tevê, o que resolvem fazer? Uma
propaganda institucional do Brasil, disfarçada de animação e o que
é pior, ainda ousa em ser feito em um 3D sem o menor sentido. A
maior dó é saber que este filme vai ficar na história do cinema
nacional como a primeira animação 3D.
O
roteiro é algo inacreditável de tão bobo. Por quase 80 minutos,
acompanhamos a dupla Stress e Relax na busca pelo jequitibá rosa,
uma espécie arbórica rara, a mais antiga do Brasil. O intuito é
ficar rico vendendo ingressos para observá-la. Assim, os dois vão
do Oiapoque ao Chuí, num esquema excessivamente didático que
estabelece que, a cada parada, um novo passeio turístico dar-se-á
pelos seus pontos clichês, guiados pela dupla.
No
começo ainda dá para relevar a propaganda, mas chega um momento em
que já não se aguenta mais tanta repetição – ainda mais sem
possuir um fator gracioso sequer. A impressão é de que estamos
pagando para assistir a uma propaganda da Embratur. Algo que não me
saía do pensamento era a ideia de que tal roteiro, na verdade, seria
o roteiro perfeito. Pensem bem: num país dependente de leis de
fomento e editais governamentais para se produzir cinema, quer maior
facilitador do que ser uma propaganda do governo? Melhor ainda: tendo
em mãos uma proposta que, dentre outros pontos, também exija passar
pelas cidades para filmar seus pontos turísticos e inserí-los no
filme em live-action,
pode-se também rodar o Brasil de graça! Quem não gostaria de uma
produção assim?
Maurício
Ricardo, que produz suas charges com técnica semelhante, a toque de
caixa e numa velocidade impressionante – com a diferença que de
vez em quando acerta na piada – estaria dando bobeira em perder uma
mamata destas. A zombaria é tanto que, durante os créditos finais,
aparecem dois elementos da equipe tomando banho de mar e a dublagem
dizendo: “ei, não era para estes dois aí estarem trabalhando? O
que eles estão fazendo no mar?”.
Acho
ótimo que se tente expandir os gêneros e produzir animações
também no Brasil - até porque temos profissionais super talentosos,
só à espera de incentivo financeiro -, mas não me conformo que
façam isso com tamanha displicência, sem sequer pensar em mercado,
principalmente num projeto assim, que deveria ser voltado para... o
mercado. Ou vai dizer que o intuito era artístico e que não importa
que não seja visto por muita gente?
Para
não dizer que tudo são espinhos, é preciso exaltar pelo menos a
dublagem de Eduardo Jardim, que confere um pouquinho de credibilidade
não só à dupla protagonista, como uma penca de outros pequenos
personagens.
No
fim das contas, pelo menos como uma ferramenta didática em
substituição às insossas cartilhas de estudos sociais este longa
poderia servir.
Eu
duvido que, num esquema industrial, algo assim seria produzido, com
um orçamento de 3 milhões de reais, que dificilmente seria pago nas
bilheterias – a arrecadação total não chegou nem a 800 mil
reais. Aí quando o público brasileiro prefere ver Toy Story,
reclamam.
Trailer:
(idem,
Brasil, 75 minutos, 2011)
Dir.:
Mariana Caltabiano
Dublagem
de Eduardo Jardim
Nota
3,0
3 comentários:
acho que o "sucesso" nas bilheterias é um bom espelho da qualidade dele.
fica pra próxima!
Hehehehe, o mais engraçado é ler sua crítica enquanto na tv da sala está passando "Megamente".
Fred, te desejo um feliz Ano Novo, com muitos filmes bons e torcendo pra produção nacional merecer elogios, hehehe
Oi Cris. Muito obrigado.
Feliz 2012 pra você também, que você descubra os bons filmes em meio à "multidão".
Abraços
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